Prêmio Internacional
“Como vimos nos filmes” é o título da redação de Julia Peixoto Fernandes, aluna do 3º ano da Escola Sesc de Ensino Médio, premiada em 2º lugar na categoria Juventude do International Essay Competition for Young People. O concurso promovido pela organização teuto-nipônica The Goi Peace Foundation propôs como tema este ano A letter from myself in 2030. A ideia é que os participantes se imaginassem daqui a 10 anos e relatassem ao seu eu em 2020 como estavam sua vida e seus sentimentos.
Julia descreveu de forma poética o mundo que a esperaria daqui a uma década. A carta demonstra os valores nos quais a estudante acredita e como eles podem ter êxito a partir do esforço de cada um. Uma verdadeira lição de otimismo e esperança. No dia 21 de novembro, a estudante irá apresentar seu ensaio durante a cerimônia de premiação, que por conta da pandemia será realizada de forma virtual por meio do canal da Fundação no YouTube, a partir de 14h no horário do Japão (2h da manhã no horário do Brasil).
A competição contou com 33.632 inscritos de 166 países. O Polo Educacional Sesc participou com 30 alunos. Para assistir a premiação, basta se inscrever no link https://www.goipeace.or.jp/en/work/forum/.
Confira a redação.
Como vimos nos filmes
Cara Peixoto,
Eu sempre pensei que o mundo acabaria em 2012, como previa o calendário Maia. Eu lembro de estar no carro do meu pai, olhando para o céu à noite pela janela e imaginando como nossa existência iria desaparecer. Quando o ano acabou e nós ainda estávamos por aqui, percebi que o que destruiria a humanidade não viria de longe, já estava aqui: nossa falta de empatia, nosso ódio e nossos preconceitos – e somente nós juntos, poderíamos nos salvar.
Inquestionavelmente, você jpa fez essa análise, porque nessa época eu, ou melhor nós, tínhamos 17 e não podíamos aceitar as desigualdades que existiam no mundo. Embora que, para sermos honestos, apenas por ter nascido uma menina em uma família de raça mista, em um país sul-americano, nunca poderíamos entender as razões pelas quais pessoas eram maltratadas devido a sua etnia, gênero, status social, orientação sexual ou identidade de gênero.
Não temos mais que entender o incompreensível, ou tentar justificar discriminações horrendas, como muitos fizeram no passado. Portanto, devo dizer que nem mesmo em nossos melhores sonhos e esperanças tínhamos um vislumbre de como nosso mundo viria a ser. É tudo tão diferente agora, Julia! Você ficaria completamente surpresa e feliz pelas mudanças que nós conseguimos.
O processo começou com a educação, como sempre acreditamos que seria. Escolaridade - em todos os seus níveis - agora é gratuita para todos, graças à educação pública e aos esforços da UNESCO todos têm possibilidades semelhantes e a admissão em faculdades e empregos são mais justas do que nunca, já que a linha onde iniciamos nossa jornada profissional é a mesma para todos os estudantes. Além disso, uma boa educação agora inclui estudos de raça, religião e gênero, ensinando respeito, compreensão e inclusão das diferenças que fazem cada ser humano único.
Como resultado da democratização da educação, também fizemos avanços significativos na Ciência, o mundo agora é alimentado exclusivamente por energias renováveis, as doenças que assustavam a sociedade são curáveis, as vacinas que previnem a ocorrência de pandemias nos são oferecidas sem custos.
Da mesma forma, a saúde como um direito humano básico existe em todo planeta, não temos mais que esperar em longas filas por tratamentos que não teríamos por não poder pagar, os suprimentos médicos não são mais escassos como eram em zonas de guerra e áreas desprivilegiadas. Todo ser humano pode viver com dignidade por meio dos cuidados médicos oferecidos.
Além disso, as expressões artísitcas e culturais são agora altamente valorizadas como direitos básicos e vistas como essenciais para a vida social. Eu sei Julia! Nunca pensamos que a arte finalmente seria reconhecida como parte fundametnal da reconstrução da sociedade, mas é. Você sempre sentiu a importância de todas as formas de arte na preservação da memória e na abertura de caminhos para experiências futuras, e é isso que você tem feito, você é uma diretora de cinema e uma ativista, como sonhou.
Documentamos em nossos filmes as mudanças que antes eram apenas ficção. Os passos que a sociedade deu para se tornar uma comunidade justa e igual estão para sempre registrados em nossas câmeras e nossas mentes. Os filmes que dirigimos eram peças de protestos que mostravam a desigualdade difundida nas relações sociais e no cumprimento de direitos, mas agora nossos filmes são lembretes de onde nosso ódio e injustiça nos levaram no passado.
Você deve se lembrar do poder de mudança que existe na arte, isso te ajudará a pegar o caminho certo, e você nunca deve esquecer que, assim como nos filmes, decisões tomadas logo na primeira cena, têm consequências na sequência final. Nossos filmes são importantes provas do que aconteceu e não pode ser esquecido, já que conhecer os erros anteriores da humanidade e as falhas de julgamento nos ajudam a nunca mais deixá-los acontecer, caso contrário nossa história se tornaria uma repetitiva coleção de erros e omissões.
Nenhum direito deve ser considerado garantido Julia. Mesmo agora, quando a situação é ideal, nós continuamos lutando para que ninguém mais sofra novamente.
Com grandes esperanças nas mudanças que a sociedade pode fazer,
Julia Peixoto
Para ler a redação da Julia em inglês acesse: https://www.goipeace.or.jp/wp/wp-content/uploads/2016/09/2020_winner_2Y1-e.pdf