Página Inicial > Lazer > O turismo social e sua importância para o desenvolvimento do Brasil
Artigo de Anderson Dalbone – Gerente de Lazer do Departamento Nacional do Sesc
Por que as pessoas viajam? Para que serve o turismo? Viagens podem representar uma fuga da rotina, uma oportunidade para descansar ou até mesmo uma forma de se conectar consigo mesmo ou com a natureza e, sobretudo, aprender. Entretanto, o desenvolvimento da atividade turística ocorre em um cenário de desigualdades sociais, o que costuma privar muitas pessoas de viajar e de exercer o pleno direito à cidadania.
O conceito de turismo social surgiu nas primeiras décadas do século XX com o objetivo de proporcionar férias e lazer ao maior número de pessoas e, mais recentemente, agregou o estímulo ao respeito às diferenças culturais, além de incentivar as viagens daqueles que, pelos mais variados motivos, não fazem parte do perfil de clientes da indústria turística tradicional.
O Comitê Econômico e Social Europeu define o turismo social explicitamente como um direito. Apesar disso e de sua importância para a inclusão social e de seu potencial como instrumento de educação não formal e de promoção da cidadania, trata-se de um conceito ainda pouco conhecido no Brasil e na maior parte do mundo, mesmo após a criação da Organização Internacional de Turismo Social (ISTO), na década de 1960, quando se abriu uma nova perspectiva em relação a essa atividade.
O turismo social evoluiu de um conceito destinado a facilitar o acesso a viagens de férias para camadas da população com menor poder aquisitivo para uma proposta muito mais ampla e holística, com foco em grupos desfavorecidos da sociedade, abrangendo as famílias, jovens, idosos e pessoas com deficiência, e deslocando parte do seu olhar também para as comunidades receptoras e profissionais da área. A nova visão tem como alguns de seus objetivos contribuir para uma transformação social por meio da inclusão, da educação e do desenvolvimento de regiões.
Busca-se, também, integrar a cadeia produtiva do setor a partir de relações pautadas na solidariedade, confiança mútua e compromisso ético, de maneira a promover a distribuição justa da riqueza gerada e estimular serviços turísticos sustentáveis, solidários e socialmente responsáveis para todos, isto é, para turistas, comunidades receptoras, trabalhadores e empresas que atuam nessa atividade de relevância global.
No Brasil, o Sesc é pioneiro e protagonista na realização de turismo social e, desde 1948, é referência no tema para pesquisadores e outras instituições em nível global. Membro da Organização Internacional de Turismo Social, foi o único representante do Brasil incluído na publicação “Turismo em Ação” (ISTO, 2017), que traz vinte exemplos de políticas sociais em turismo ao redor do mundo.
Algumas tendências têm sido apontadas por especialistas para a retomada das atividades turísticas em um cenário pós-pandemia. Dentre elas, podemos destacar o turismo de proximidade (viagens curtas, notadamente rodoviárias) e viagens em grupos menores compostos por familiares, especialmente idosos, grupo que mais sofreu com a necessidade de se manter isolado. Nesse sentido, as atividades que já fazem parte do escopo de trabalho natural das organizações que atuam em turismo social, como o Sesc, apresentam-se como contribuições de primeira hora nesse processo de retomada, pois o turismo doméstico e as famílias – com especial atenção para aquelas de menor poder aquisitivo – formam os pilares de sustentação do turismo social.
A viagem impacta corpo e alma do viajante, este sujeito que, no retorno, pode ser outro, e ver-se transformado por aquela experiência. Em um cenário de forte retração econômica, devido à pandemia da covid-19, o turismo social pode ser um importante vetor de retomada de crescimento, de inclusão e de promoção do bem-estar social para diversos municípios brasileiros.
— Artigo originalmente publicado no Jornal Correio (BA) em 6/1/2021.
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