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3 de março de 2021

Artigo de Luiz Fernando de Moraes Barros – Diretor do Polo Educacional Sesc

Na última edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), realizada em 2018, o Brasil se manteve entre os mais frágeis desempenhos globais, cravando sua triste posição entre as 20 últimas no ranking mundial. Em Matemática, por exemplo, 68,1% dos estudantes brasileiros estão entre o pior grau de proficiência, não alcançando sequer o nível básico. Além disso, o levantamento também evidenciou que somos um dos países com maior desigualdade de aprendizagem, dentre todas as 80 nações participantes, tomando por base o distanciamento abissal entre os estudantes de maior e menor condição socioeconômica. Nesse quesito, o Brasil exibe a lamentável 5ª maior desigualdade mundial em Matemática e a 3ª em Leitura e Ciências.

Se os dados coligidos nessa avaliação internacional, executada em 2018, já revelavam acentuada preocupação sobre os rumos da educação brasileira, temos acompanhado agora, no contexto de pandemia, o que já se vislumbra como o agravamento desses mesmos indicadores de aprendizagem, além de uma inevitável ampliação das desigualdades que já eram extremadas. Sem condições semelhantes de estudo, as juventudes brasileiras seguem um caminho ainda mais preocupante e que, por isso mesmo, não poderá prescindir de uma atenção especial, quer do poder público, quer das iniciativas privadas, com o objetivo de reduzir esses desafios e alavancar, qualitativamente, os processos educacionais no país.

Com a pandemia se estendendo por mais de um ano, alunos, educadores e instituições precisaram aprender novas formas de operar as dinâmicas de ensinar e aprender. As aulas expositivas – indiscutivelmente desgastadas na modalidade presencial – passaram a ser ainda mais obsoletas e improdutivas. Nesse sentido, as escolas que já vinham desenvolvendo estratégias híbridas de aprendizagem, principalmente a partir de metodologias ativas, vêm logrando maior êxito no regime remoto imposto pela pandemia.

Na Escola Sesc de Ensino Médio, temos explorado o hibridismo desde pelo menos 2017, entendendo que juventude digital nos impulsiona por caminhos mais criativos e eficientes, do ponto de vista das expectativas de aprendizado e sua conexão com a vida. Nesse sentido, nossos desafios para realizar uma educação remota de qualidade foram atenuados, não somente pelo repertório de práticas já acumulado ou pela estrutura tecnológica desde sempre adotada, mas principalmente pelo empenho de talentosos professores e de estudantes dedicados. Com processos integradores e humanizados, temos conseguido realizar um ensino remoto de alta adesão e intensamente produtivo.

Como escola nacional (com estudantes de todos os estados brasileiros em regime residencial), vivemos – como princípio e identidade institucional – a potência da diversidade brasileira enriquecendo cada momento de aprendizagem. E essa pluralidade, aplicada agora a um contexto pandêmico, possibilita uma leitura crítica do país – suas dificuldades e estratégias – e a conversão dessa mesma leitura em conhecimento.

Mas para garantir o sucesso das ações, precisamos manter a atenção em alguns aspectos essenciais, como garantir tempo de planejamento e formação continuada para os educadores, que passaram a ser também produtores de objetos de aprendizagem online, além de suporte emocional a todos os envolvidos. Cuidar da qualidade técnica das ações, sem negligenciar o cuidado pessoal. Por isso, na Escola Sesc de Ensino Médio, professores e estudantes contam com uma rede de apoio, que contempla desde um currículo voltado à inteligência emocional ao suporte multidisciplinar em saúde física e mental, inclusive no período de férias.

Apesar dos esforços e dos sucessos, é indiscutível que todos nós, na Escola Sesc e nas demais instituições, vivemos momentos desafiadores. Se, por um lado, nos reinventamos em nosso fazer, desenvolvendo ainda mais competências outras como a resiliência, a empatia, a escuta ativa e as habilidades de organização e negociação, por outro, será preciso criar e fortalecer mecanismos que possibilitem a redução dos impactos causados pela pandemia na educação brasileira, sobretudo na rede pública, que também exige reinvenção.

No pós-Covid19, a escola – como locus aberto às mudanças – precisará incorporar algumas experiências vividas, como o uso produtivo dos celulares, as estratégias híbridas de ensinar e aprender, bem como o desenvolvimento – integrado aos currículos – das habilidades socioemocionais como ferramentas para o enfrentamento equilibrado dos novos desafios da vida. Fica, pois, o convite a um amplo pacto educacional, para além de nossas instituições, com vistas ao melhor e mais adequado desenvolvimento da educação brasileira, apoiado na irrefutável justiça social.


Artigo originalmente publicado no Jornal O Dia em 26/04/2021.  

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