Com 108 mil hectares, a Reserva do Sesc Pantanal tem ampliado os meios de prevenção a incêndios no bioma

A maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil, a RPPN Sesc Pantanal, localizada em Barão de Melgaço (MT), tem como principal marca o trabalho de referência quando o assunto é prevenção aos incêndios no Pantanal, desde sua criação em meados do fim da década de 1990. Nos últimos anos, tem ampliado tais estratégias frente às recentes mudanças acentuadas no clima, um dos anos mais secos já registrados no Pantanal desde 2019. A principal ação prevista para 2024 é a queima prescrita, que faz parte do Plano de Manejo Integrado do Fogo (PMIF), e utiliza o fogo como aliado para proteger a área de 108 mil hectares.
Iniciativa inédita em unidades de conservação do Pantanal Norte (Mato Grosso), a queima prescrita prevê a queima de algumas áreas na RPPN, em vegetação mais adaptada ao fogo, que contribui para a conservação da Unidade de Conservação. A estratégia, utilizada em várias partes do mundo e em outros biomas brasileiros, é uma das mais avançadas opções de prevenção, considerando as mudanças nos ciclos das águas registradas desde 2020, quando o Pantanal teve o pior incêndio da sua história, com cerca de 4 milhões de hectares impactados pelos incêndios.
O Pantanal tem apenas 5% do bioma protegido em Unidades de Conservação. Deste total, 1% corresponde à RPPN Sesc Pantanal, que faz parte do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, iniciativa do Sistema CNC-Sesc-Senac.
Conservar essa área dos incêndios florestais, segundo a gerente-geral do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, Cristina Cuiabália, é um grande desafio que só é possível se for feito coletivamente. “O PMIF reforça a importância da integração de todas as atividades relacionadas à prevenção e combate aos incêndios florestais na Reserva e entorno como o Sesc Pantanal tem trabalhado há quase três décadas. Portanto, a construção colaborativa é a abordagem principal no planejamento, ou seja, é feita com as comunidades tradicionais, indígenas, fazendeiros, pesquisadores, considerando a ecologia, a cultura e o manejo do fogo no Pantanal e o cenário atual das mudanças no clima, a qual requer uma análise múltipla e integrada”, destaca Cuiabália, que também é bióloga.
Com as mudanças climáticas, que têm feito o Pantanal vivenciar períodos cada vez mais intensos de seca, continua Cuiabália, a experiência do Sesc Pantanal tem sido uma importante referência para outras áreas no bioma. “Ao longo de todos esses anos a RPPN Sesc Pantanal realiza ações de Manejo Integrado do Fogo, como a formação de brigadistas, educação ambiental com o entorno da Reserva e ações de prevenção, como a confecção de aceiros. A novidade deste ano será a queima prescrita, já realizada em caráter de pesquisa em 2021. A expectativa é muito positiva, considerando os resultados dessa estratégia em outros biomas, conduzidos pelo Instituo Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)”, ressalta.
Prevenção a incêndios do Sesc
Como ferramentas de prevenção, a RPPN também conta com a tecnologia de detecção de focos de incêndio com câmeras de alta precisão. As imagens captadas são acompanhadas em um Centro de Monitoramento onde são processadas rapidamente com uso de algoritmos de inteligência artificial e transmitidas para a Brigada de Incêndio do Sesc Pantanal e o Corpo de Bombeiros para iniciar rapidamente o combate às chamas. A tecnologia já se mostrou eficaz na temporada da seca de 2023.
Já a Brigada de Incêndio, contratada para atuação durante seis meses no período da seca, agora permanecerá por oito meses e terá um reforço importante: dois novos pontos de água na área central da Reserva, naturalmente mais seca por estar distante dos rios Cuiabá e São Lourenço, que margeiam na RPPN. Os poços artesianos foram construídos durante o projeto “RPPN Sesc Pantanal – Recuperando e Protegendo”, realizado em parceria com a Funatura, por meio do projeto GEF-Terrestre, do Governo Federal, e contribuirá para os esforços de eventual combate a incêndios florestais, facilitando o rápido reabastecimento de caminhões-pipa.
Seca histórica no Pantanal
Muitas das áreas normalmente inundadas durante a época das cheias do Pantanal, neste ano se mantiveram secas, configurando um dos períodos de pior estiagem da história do bioma.  Este cenário levou a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) a aprovar, no mês de maio, a Declaração de Situação Crítica de Escassez Quantitativa dos Recursos Hídricos na Região Hidrográfica do Paraguai, com vigência até 31 de outubro deste ano, fim do período seco normal na bacia do Paraguai, a principal do Pantanal, podendo ser prorrogada caso a situação de escassez hídrica persista.

A decisão foi tomada devido ao cenário observado na Região Hidrográfica do Paraguai, embasado por manifestações de entidades ligadas ao tema, como o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e o Serviço Geológico do Brasil (SGB), de escassez hídrica relevante em comparação com períodos anteriores. Isso porque o nível d’água do rio Paraguai em abril deste ano atingiu o pior valor histórico observado em algumas estações de monitoramento ao longo de sua calha principal, sendo que o cenário de escassez ocorre desde o início deste ano na Região Hidrográfica do Paraguai.